quinta-feira, 17 de março de 2011

Sobre a enchente de São Lourenço do Sul

Não sabia o que colocar aqui, sobre a enxurrada que acabou com a minha cidade Natal, São Lourenço do Sul, no RS. Não queria ser sensacionalista, postar fotos de casas até o teto com água, canais no lugar de ruas.
Ao mesmo tempo, precisava escrever algo pra ajudar minha família, meus amigos, minha cidade. Não consegui descrever.

Por fim, hoje tive a grata satisfação de ler uma carta da minha prima Luíta, na Zero Hora, editada pelo Leandro, também meu primo.
Narra de maneira tão sutil os dias de hoje, das prioriadades que julgamos ser importantes, enfim... Um tapa na cara.


Carta de minha irmã em São Lourenço
Leandro Nunes da Silva

Boa noite!
Escrevo a todos meus amigos ou queridos conhecidos para agradecer tudo de bom que tem chegado para nós. A sensação quando vemos nas ruas as caçambas e máquinas das prefeituras da região ou particulares, trabalhando e ajudando a limparmos a cidade é emocionante assim como é emocionante ver carreatas de donativos chegando e também equipes de saúde vindas de outros municípios, incasáveis trabalhadores que mostram o quanto seu trabalho é um ato de fé, uma missão de vida, além de familias inteiras mobilizadas em limpar e arrumar, a força de vontade humana é algo realmente surpreendente...

A força inexplicável que um abraço, um sorriso, uma palavra que ajuda a seguir em frente a sensação até mesmo irônica de espera de Água, ela que foi nossa carrasca também é nossa benção para tirar a lama, esperamos ela e comemoramos cada casa que consegue ser lavada, cada cadeira, mesa, guardaroupa que escapa, cada TV é comemorada...parece tão futil essa comemoração, afinal estamos todos vivos mas essas coisas são nossas coisas, as vezes nem muito novas, as vezes nem mmuito bonitas, mas nossas!


A cada dia que passa a vida melhora um pouquinho, mesmo que vagarosamente, mas se alinhando, sou teimosamente otimista pode ser que isso faça eu dizer a vocês que veremos a cidade e as casas, e as pessoas refeitas em breve e muito melhores do que antes...Parece que acordamos de uma dormência coletiva sinto que a cordialidade e solidariedade descansavam, sendo requisitadas em situações especiais...mas agora elas afloram elas pulsam e pulsionam as pessoas, as familias unidas no trabalho, os amigos que chegam de todos os lados, os filhos que moram longe e nunca tem tempo de ligar para os pais que estão aqui, vieram e trouxeram as namoradas, ou namorados, ou outros amigos e estão todos prontos para ajudar, trabalhar muito e mesmo que o corpo reclame a alma é inacreditavelmente persistente e sustenta o ânimo...


A vocês que estão em outros lugares, ou mesmo aqui e não viram as imagens da Barrinha destruida, não sentiram o cheiro insuportável da lama, não viram as roupas dentro dos armários encharcadas de água e sujeira, que não sentiram a sensação tão estranha de guardar tanta quinquilharia e botar fora sem dor o que não servia para nada a anos e botar fora com muita dor o que te serviu por anos ou até coisas novinhas com prestações a pagar e virou lixo...A vocês queridos, gostaria de pedir para que entrem em casa, olhem para tudo e pensem, o que realmente me faz falta por aqui...olhem demoradamente fotos antigas, guardem livros e discos em lugares que fiquem a mão e leiam e escutem de vez em quando ou emprestem para outros usufruirem.


A vocês que estão nessa situação osca...gostaria de compartilhar a música do Jorge Aragão, Conselho " Deixe de lado esse baixo astral, erga a cabeça e enfrente o mal, agindo assim será vital para o seu coração em cada experiência se aprende uma lição...pra que se lamentar...tem que lutar, não se abater..."
Amanhã é segunda-feira e as coisas vão parecer ainda melhores!
Abçs
Lu

via

4 comentários:

Unknown disse...

Lú, por esse intermédio.

De cá, pouco podemos fazer. Porém, através de suas palavras, partilhar um pouco do que estão passando.

Que se fortaleçam as pessoas e fiquem as coisas!

Abs.Geraldo-MG

Jordi C disse...

Um texto perfeito, emotivo, sincero e ante todo otimista. Não há melhor mensagem.

Abraço solidario aos que tendo perdido bens materiais, sabem que nada perderam e que a vida é um caminho e ser percorrido sem deixar se abalar.

Jordi

Anônimo disse...

Oi Lu, mesmo sem te conhecer pessoalmente (sou amiga da Sílvia e do Mateus), imagino sim o que seja um momento desses. Sou jornalista e diversas vezes acompanhei esse dilema. Inclusive, meu último trabalho em enchentes foi em janeiro de 2009, aqui em Pelotas, quando entrei na Vila Castilhos com a água na altura da cintura, acompanhada do fotógrafo, para registrar o trágico momento pelo qual aqueles moradores passavam. Um caso interessante foi de um casal que a menos de um mês havia comprado móveis novos e nos pediram as fotos para tentar, na loja, suspender o pagamento das prestações. Apesar de nunca ter sentido na pele isso, por nunca ter tido minha casa tomada pela água, ali deu para perceber o sentimento de impotência que a pessoa fica numa hora dessas, sem ter o que fazer e, em certos casos, ter de ficar dentro de casa a noite toda, sem luz, para evitar os saques. Parabéns pelo teu texto e realmente, quando eu vivia situações comoventes sempre chegava em casa e dizia: a gente é feliz e reclama da vida!!!! Parabéns, escreveste muito bem e me sinto feliz por ter colaborado para que algumas dessas pessoas atingidas possam recomeçar suas vidas.
Ivelise

Juliano Leme disse...

Graças a Deus o tempo passou e tudo voltou ao normal... Deus abençoe essa terra maravilhosa. desejo muita saúde e paz.. a todos !!!

Obrigado pela visita. Volte sempre!
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