terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Meu bairro, minha cidade

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Esse artigo é da época que ainda dava aula de Ecodesign.
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Revirando uns papéis, o encontrei e me pareceu interessante postar no blog, pois nessa onda verde, de eco-eco-eco, de salve o planeta, as pessoas esquecem de olhar pro próprio bairro ou cidade - o início de todo o ciclo.
Penso ser por ai o conceito de sustentabilidade.
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Por Gilberto Dimenstein; Tok&Stok em revista pág. 9

Meu bairro, minha cidade

Antes de morar no Brasil, no estado de São Paulo ou na cidade de São Paulo, moro no bairro da Vila Madalena. Talvez o leitor em considere provinciano, de um bairrismo incompreensível para quem deveria nutrir uma visão cosmopolita e passou boa parte da vida viajando ou morando em outras cidades, como Nova Yorque.

Um dos meus maiores prazeres é andar à pé pelo bairro, sem roteiro traçado, e conversar com artesãos, designers, artistas plásticos, cantores, dançarinas, fotógrafos, anônimos, ouvindo suas histórias. Desenvolvemos ali, naquele bairro de 1 quilômetro quadrado da zona oeste paulistana, a experiência de bairro-escola, fazendo da comunidade, com seus ateliês, teatros, museus, becos, praças, um espaço educativo, especialmente para crianças e adolescentes. Adoro ver como foram surgindo as mais diversas expressões de arte nos muros e praças.
Na Vila, temos o único cemitério do planeta cujas paredes externas viraram uma galeria de arte, assim como os becos e vielas. Mas o que me encanta, de fato, são as crianças e adolescentes percorrendo essas trilhas como se estivessem se divertindo em sala de aula. Não é à toa que, segundo uma lista divulgada pela secretaria municipal de educação, as escolas da Vila Madalena estão entre as melhores da cidade – isso pela simples razão de que é menos difícil estimular o aprendizado juntando escola, família e comunidade. Esse é um dos meus olhares sobre a questão da sustentabilidade.
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Sustentabilidade é daqueles conceitos que, surgindo nos debates sobre ambiente, se tornaram amplos, quase intraduzíveis de tão complexos. Mas a sua base é a educação. Ou seja, as pessoas terem a habilidade de perceber conflitos e desafios, dispondo-se a enfrentá-los civilizadamente. Como exigir das pessoas que se preocupem com o efeito-estufa se não entendem o que significa estufa? Muito menos como um carro emite dióxido de carbono na atmosfera, gerando o aquecimento – e, mais ainda, como esse aquecimento vai mudar a sua vida.
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A base da responsabilidade é o conhecimento e, daí, a possibilidade do indivíduo convertê-la em riqueza. Isso é facilmente compreensível quando notamos um médico, um arquiteto ou um engenheiro prosperando; afinal, transformando o que aprenderam em uma habilidade.
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Como isso se relaciona ao meu “bairrismo”?
As sociedades sustentáveis são necessariamente organizadas de baixo para cima, nas quais o cidadão conhece seus direitos e deveres. Sabe que seu papel é exigir mas também contribuir – só nessas teias os sistemas de poder, públicos ou privados, sentem-se fiscalizados.
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Estamos acostumados, no Brasil, a prestar atenção, pela ordem, no presidente, nos governadores e nos prefeitos. Deixamos de prestar atenção no que está do lado, na nossa rua, na escola, na biblioteca, na praça ou no centro de saúde da vizinhança. Tudo isso parece menor, embora o que, de fato, incomoda nosso cotidiano está na rua: as calçadas inexistentes, os caminhões entupindo o trânsito, as crianças exploradas nos semáforos, o ladrão à espreita, os entulhos de lixo.
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Fazer do bairro sua cidade e da cidade o seu país, tornando o cidadão um agente de mudança cotidiano (e não só no dia das eleições), é o que vai fazer da sustentabilidade não um conceito vago, abstrato, mas um jeito de respeitar e se respeitar no ambiente.
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Fotos: 01.beco em Vila Madalena; 02.Flyer mostrando diversidade cultural do bairro; 03. Sem conceito! Fonte: google
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