quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Frank Gehry e Niemeyer

No documentário dos Stones, que tão nos posts abaixo, vi um trailer sobre um documentário do Frank Gehry - Sketches of Frank Gehry - que me chamou a atenção. Já tinha visto no blog do plataforma arquitectura, um episódio dos Simpsons, que fazem uma paródia com o arquiteto deconstrutivista. É engraçado. A perfeita noção que o leigo deve ter sobre as suas obras.


Como bom curioso, comecei a pesquisar mais sobre o documentário - que parece ser bem informal - e encontrei esse texto que faz uma comparação do Gehry com Oscar Niemeyer. Bem interessante o ponto de vista. Segue abaixo, na íntegra.

Mais um post pra boa discussão.

FRANK GEHRY E NIEMEYER
"Quando vi o Museu Guggenheim em Bilbao pela primeira vez pessoalmente achei menos surpreendente do que nas fotos, nas quais parecia uma alucinante e futurista escultura de titânio. Era difícil, mesmo para um arquiteto, acreditar que poderia haver uma “ordem arquitetônica” alí e que a revolução formal pretendida resultasse em beleza para olhos acostumados à tradição da arquitetura limpa de inspiração modernista. Quando cheguei perto da obra, apesar de só poder apreciá-la de fora ( não pude entrar, pois o museu estava fechado) consegui compreendê-la melhor, mas mesmo assim ela não me cativou de cara como outras grandes obras arquitetônicas, cuja a beleza apreciada de perto, muitas vezes, me emocionara. O prédio - ou aquela escultura na qual se podia penetrar e exercer atividades - me pareceu uma construção extremamente tecnológica e portanto fria, para mim. Aquelas formas mirabolantes só poderiam ser projetadas e construídas com a ajuda de poderosos programas de computação gráfica e alto desenvolvimento tecnológico de materiais, portanto com um suporte técnico e um custo muito elevados. Aliado ao efeito de espetáculo urbano que o projeto provocara, atraindo investimentos urbanos e turísticos e potencializando a função capitalista da “arquitetura de grife”, a euforia gehriana não me contagiou. Não havia nela a simplicidade, a leveza e a espontaneidade do traço arquitetônico de um Niemeyer, por exemplo.



Esta impressão modificou-se bastante quando assisti ao documentário “ Sketches of Frank Gehry” de Sidney Pollack. Ao invés de ver Gehry como um contraponto a Niemeyer, passei a vê-lo como um continuador deste, (embora Gehry provavelmente não se veja assim), no rompimento da rigidez formal do modernismo e na incorporação da forma livre como expressão arquitetônica acima de tudo. Ou acima da função, de acordo com a conhecida polêmica entre arquitetos formalistas e funcionalistas. Assim como Niemeyer, Gehry, antes de ser um arquiteto é um genial escultor e trata desta forma a obra arquitetônica. Há discordâncias quanto a “boa arquitetura” ser, antes de tudo, formal, mas há de se reconhecer a grande plasticidade dos projetos de Gehry e Niemeyer. É claro que nem sempre esta plasticidade significa beleza para a maior parte das pessoas. Ou seja, Gehry e Niemeyer também projetam obras que são consideradas feias e sem a genialidade de suas obras primas.

Interessante é vermos ambos - Gehry e Niemeyer – como homens simples e poetas do traço livre, que preferem conceber suas obras a partir de croquis desenhados a mão. Nenhum dos dois desenha em computador, embora tenham equipes de profissionais altamente treinados em sofisticadas tecnologias a os assessorar. Os dois pensam a arquitetura, desde a concepção do projeto, como volume plástico e objeto escultório que deve proporcionar surpresa e emoção às pessoas em primeiro lugar. O que os diferencia: Em Gehry é o arrojo das formas curvilíneas e o uso sofisticado de materiais “high tech” que cria a surpresa arquitetônica, em Niemeyer é a singeleza e sofisticação do traço curvo e o desenho limpo que levam à beleza.


Gehry esculpe no metal – material caro e sofisticado da arquitetura de impacto midiática do Sec XXI , Niemeyer no concreto – material barato e terceiromundista, a pedra transformada em arte edificada pela arquitetura brasileira modernista da década de 1950/60. Gehry conseguiu dar vazão ao seu poder criativo com o auxílio da terapia e quando resolver ousar na profissão. Niemeyer sempre afirmou que dá menos importância à arquitetura – a qual exerce diariamente até hoje com seus 100 anos - do que a vida. Conclui-se que o aspecto humano é o que diferencia estes mestres. Há razão, contudo, em muitas críticas a eles feitas e muitas vezes contradição na humanidade que desejam para a sua arquitetura e no que ela, de fato, representa, enquanto símbolo midiático e de poder. Porém contradição, desigualdade, paradoxo, beleza e caos são traços próprios da arte e não se pode cobrar coerência dela, sob pena de esterelizá-la."
Em overmundo

Li esse texto e me lembrei das aulas de História, com as discussões se Niemeyer era um arquiteto ou escultor... Bons tempos. Lembrei também das frases do velhinho, que as aplico no meu dia-a-dia como causar surpresa, e o importante é a vida.

Claro que podemos colocar mais "n" tópicos nesse texto. Mas que a comparação e a proximidade entre os dois é pertinente... ah, isso é, sem dúvida!
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4 comentários:

eliana pires de souza disse...

Seguramente, se essa pessoa tivesse entrado no museu, não teria a mesma opinião...
As "disciplinas" (humanas incluídas) que influem em um resultado arquitetônico vão de mais a menos infinito.
Ainda assim, não consigo encontrar essa “humanidade” que une as obras do Niemeyer e do Ghery, por uma diferença bem básica na maneira como, em cada caso, a forma comunica a intenção do traço de cada arquiteto.
Referente a isso, Niemeyer estabelece um diálogo claro e objetivo, enquanto Ghery utiliza uma trama complexa que releva à subjetividade a essência da estrutura; artimanhas de uma arquitetura que tende a cenário e, em conseqüência disso, emociona menos, ainda que seja igual de surpreendente.

mateussz disse...

Concordo contigo Elips. Não conheço pessoalmente as obras do Gehry, porém eu entendo o que diz.
O que gostei do texto, foi que o cara encontrou uma certa similaridade entre os dois, argumentando inclusive, que o Gehry é um "sucessor" do velhinho...
A maneira de viver, de fazer os croquis e projetar, de como se trabalha as formas... Apesar das obras recentes do Niemeyer não despertar a mesma humanidade de outrora...

Guilherme Moraes disse...

O cara que escreveu o texto é médico? Assino embaixo Eli...

Anônimo disse...

Tentado pelas boas lembranças do corredos da arquitetura vou dar minha humilde opinião. Se eu disse que não admiro essas 2 cabaças geniais estarei mentindo. As obras de niemeyer sem dúvida me emocionaram, as de Gehry muito provavelmente emocionarão, ambas pela grandeza, inovação, criatividade, novidade... enfim, o desejo de fazer o nunca antes visto ou imaginado. Agora, vejo esses dois gênios muito mais como escultores do que como arquitetos, muito mais preocupados com seu ego e sua fama, embora neguem, do que com aqueles que ali viverão, passarão, ou trabalharão. Na minha ignorância acho difícil numa comparação, perceber paralelos entre os dois, porque num vejo formas, maravilhosas formas, no outro vejo a ausência de formas, divina ausência de formas,mas nos dois casos acho que a arquitetura fica meio oca, pouco humana, pouco sensível.Resumindo, eu nào moraria numa casa projetada por nenhum dos 2, só se eles me pedissem por favor, pra dar uma valorizada no imóvel.

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