No documentário dos Stones, que tão nos posts abaixo, vi um trailer sobre um documentário do Frank Gehry - Sketches of Frank Gehry - que me chamou a atenção. Já tinha visto no blog do plataforma arquitectura, um episódio dos Simpsons, que fazem uma paródia com o arquiteto deconstrutivista. É engraçado. A perfeita noção que o leigo deve ter sobre as suas obras.
Como bom curioso, comecei a pesquisar mais sobre o documentário - que parece ser bem informal - e encontrei esse texto que faz uma comparação do Gehry com Oscar Niemeyer. Bem interessante o ponto de vista. Segue abaixo, na íntegra.
Mais um post pra boa discussão.
FRANK GEHRY E NIEMEYER
"Quando vi o Museu Guggenheim em Bilbao pela primeira vez pessoalmente achei menos surpreendente do que nas fotos, nas quais parecia uma alucinante e futurista escultura de titânio. Era difícil, mesmo para um arquiteto, acreditar que poderia haver uma “ordem arquitetônica” alí e que a revolução formal pretendida resultasse em beleza para olhos acostumados à tradição da arquitetura limpa de inspiração modernista. Quando cheguei perto da obra, apesar de só poder apreciá-la de fora ( não pude entrar, pois o museu estava fechado) consegui compreendê-la melhor, mas mesmo assim ela não me cativou de cara como outras grandes obras arquitetônicas, cuja a beleza apreciada de perto, muitas vezes, me emocionara. O prédio - ou aquela escultura na qual se podia penetrar e exercer atividades - me pareceu uma construção extremamente tecnológica e portanto fria, para mim. Aquelas formas mirabolantes só poderiam ser projetadas e construídas com a ajuda de poderosos programas de computação gráfica e alto desenvolvimento tecnológico de materiais, portanto com um suporte técnico e um custo muito elevados. Aliado ao efeito de espetáculo urbano que o projeto provocara, atraindo investimentos urbanos e turísticos e potencializando a função capitalista da “arquitetura de grife”, a euforia gehriana não me contagiou. Não havia nela a simplicidade, a leveza e a espontaneidade do traço arquitetônico de um Niemeyer, por exemplo.
Esta impressão modificou-se bastante quando assisti ao documentário “ Sketches of Frank Gehry” de Sidney Pollack. Ao invés de ver Gehry como um contraponto a Niemeyer, passei a vê-lo como um continuador deste, (embora Gehry provavelmente não se veja assim), no rompimento da rigidez formal do modernismo e na incorporação da forma livre como expressão arquitetônica acima de tudo. Ou acima da função, de acordo com a conhecida polêmica entre arquitetos formalistas e funcionalistas. Assim como Niemeyer, Gehry, antes de ser um arquiteto é um genial escultor e trata desta forma a obra arquitetônica. Há discordâncias quanto a “boa arquitetura” ser, antes de tudo, formal, mas há de se reconhecer a grande plasticidade dos projetos de Gehry e Niemeyer. É claro que nem sempre esta plasticidade significa beleza para a maior parte das pessoas. Ou seja, Gehry e Niemeyer também projetam obras que são consideradas feias e sem a genialidade de suas obras primas.
Interessante é vermos ambos - Gehry e Niemeyer – como homens simples e poetas do traço livre, que preferem conceber suas obras a partir de croquis desenhados a mão. Nenhum dos dois desenha em computador, embora tenham equipes de profissionais altamente treinados em sofisticadas tecnologias a os assessorar. Os dois pensam a arquitetura, desde a concepção do projeto, como volume plástico e objeto escultório que deve proporcionar surpresa e emoção às pessoas em primeiro lugar. O que os diferencia: Em Gehry é o arrojo das formas curvilíneas e o uso sofisticado de materiais “high tech” que cria a surpresa arquitetônica, em Niemeyer é a singeleza e sofisticação do traço curvo e o desenho limpo que levam à beleza.
Gehry esculpe no metal – material caro e sofisticado da arquitetura de impacto midiática do Sec XXI , Niemeyer no concreto – material barato e terceiromundista, a pedra transformada em arte edificada pela arquitetura brasileira modernista da década de 1950/60. Gehry conseguiu dar vazão ao seu poder criativo com o auxílio da terapia e quando resolver ousar na profissão. Niemeyer sempre afirmou que dá menos importância à arquitetura – a qual exerce diariamente até hoje com seus 100 anos - do que a vida. Conclui-se que o aspecto humano é o que diferencia estes mestres. Há razão, contudo, em muitas críticas a eles feitas e muitas vezes contradição na humanidade que desejam para a sua arquitetura e no que ela, de fato, representa, enquanto símbolo midiático e de poder. Porém contradição, desigualdade, paradoxo, beleza e caos são traços próprios da arte e não se pode cobrar coerência dela, sob pena de esterelizá-la."
Em overmundo
Li esse texto e me lembrei das aulas de História, com as discussões se Niemeyer era um arquiteto ou escultor... Bons tempos. Lembrei também das frases do velhinho, que as aplico no meu dia-a-dia como causar surpresa, e o importante é a vida.
Claro que podemos colocar mais "n" tópicos nesse texto. Mas que a comparação e a proximidade entre os dois é pertinente... ah, isso é, sem dúvida!
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