terça-feira, 26 de agosto de 2008

Amy Winehouse

Esses tempos, numa viagem dessas, surgiu o assunto Amy Winehouse, junto com o seu CD - que é ótimo! A mulher enlouquece e entorpece bebendo vinho (entre outros). Repertório musical e polêmico como poucas.

Desde então, to ensaiando o que escrever sobre ela... mas não me puxei...

Ai, saiu essa matéria no A Notícia de domingo. Bom artigo. Serve como apresentação dessa Mulher-espetáculo-marketeira-pirada!

Marketing da dor

MAÍRA ZIMMERMANN DE ANDRADE* Florianópolis

Celebridades como Amy Winehouse fazem fama colecionando histórias de loucuras, sofrimento e vícios
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A cantora pop britânica Amy Winehouse virá ao Brasil para apresentação no Tim Festival, em outubro. Como nada em sua carreira é certo, não se sabe se esta notícia é fato até lá. Circulam na internet vídeos de Amy em estado de entorpecimento por uso abusivo de álcool e drogas. Revistas e jornais exibem, aos borbotões, sua frágil figura, beirando o desequilíbrio, como se não agüentasse o pouco peso sobre os pés. Nos shows ao vivo, apresenta-se cambaleante, embriagada. Sua música chega ao público acompanhada de uma descomedida aflição. Trazendo à tona a questão de que, para entrar no rol da grande arte, a obra tenha que conter, necessariamente, elementos de tristeza ou ser triste.

A cantora parece estar em uma batalha consigo mesma, testando limites de seu corpo e carregando uma cabeça que não agüenta lidar com a fama. Ela não é ela sem ser a "drogadita". Por não saber quem seria com uma imagem saudável, precisa dessa "publicidade". Existe um esforço midiático na exibição, ou construção, de ídolos teens desequilibrados, desde a pop Britney Spears até o indie Pete Doherty. Junkies, na cena do pop/rock não são novidade. A associação do sofrimento à criação artística peca, inclusive, pela falta de originalidade. Basta lembrar-se de Kurt Cobain, vocalista do Nirvana, que, após meteórica carreira, matou-se aos 28 anos com um tiro na cabeça.

É confortável acompanhar histórias de loucura alheias, pois os loucos não somos nós. Também é aceitável que nossas extravagâncias sejam cometidas por nossos ídolos, e, assim, suscetíveis de aceitação social. O comportamento individual vira espetáculo, show para a platéia assistir. Em tempos de difusão de informação pela rede, nem precisa comprar ingresso. Participamos passíveis de um sistema de fast idols: não é possível prever quem dura mais de uma semana.
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A apologia ao sofrimento não é de hoje. Sofro, logo existo. Passado o estágio de provação, estamos prontos para o próximo, em que permanecemos padecendo. Prega-se a angústia eterna como caminho para o alcance de uma felicidade irreal, possível apenas em imagens de anúncios publicitários. Hoje, as celebridades são cultuadas como os santos nas sociedades tradicionais. Como diz o sociólogo Colin Campbell, vivemos na época do hedonismo moderno, buscando o prazer nunca satisfeito.
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Amy Winehouse criou sua própria caricatura, vive à custa de um personagem. Imagem que os fãs consomem e imitam. Muitas vezes, o dito mundo real torna-se tão desagradável que acabamos alimentando a roda do hedonismo imaginativo, buscando o prazer nunca satisfeito, porque a imaginação será sempre mais satisfatória do que a realidade em si.
* Maíra Zimmermannde Andrade é historiadora (UFSC), especialista em Jornalismo de Moda e Estilo de Vida (Univers. Anhembi Morumbi) e mestranda em Moda, Cultura e Arte (Senac-SP)

Peneirado no A Notícia

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